PANCs (Plantas Alimentícias não Convencionais) – Você conhece?
Sabe as plantas “daninhas”? Muitas pessoas não conhecem a riqueza de várias plantas que nascem espontaneamente em canteiros, jardins, hortas, campo ou até mesmo na cidade. Muitas dessas plantas que simplesmente aparecem nos lugares são comestíveis e apresentam índices nutricionais iguais ou superiores às hortaliças, raízes e frutos que estamos habituados a comer.
Chamam-se PANCs (plantas alimentícias não convencionais), essas plantas nativas ou exóticas que não estão incluídas no nosso cardápio cotidiano e que possuem uma ou mais partes comestíveis.
Com que modelo de alimentação vivemos?
A maioria da nossa alimentação é baseada em no máximo quatro espécies de plantas. 90% dos alimentos que consumimos vêm de apenas 20 tipos de plantas. Por outro lado, a oferta de plantas alimentícias é de pelo menos 30 mil tipos diferentes.
A FAO, órgão da ONU, envolvido com a questão da alimentação mundial, estima que 75% das variedades convencionais de plantas alimentícias já foram perdidas.
A predominância das hortaliças (verduras, legumes, etc.) comercializadas hoje provém de empresas de sementes e não corresponde a plantas nativas.
Suas sementes sofreram “melhoramento” e seu modo de cultivo foi visando suprir as enormes demandas induzidas pelo mercado de forma que é feita por meio de monoculturas: um modelo simplificado e disfuncional de trato com os ecossistemas.
As monoculturas dependem de um aporte energético muito elevado. Além do uso intenso de biocidas (herbicidas, pesticidas, inseticidas), que contaminam os ecossistemas, a saúde do trabalhador e do consumidor. O sufixo CIDA corresponde a MATAR, e BIO significa vida.
Muitas dessas empresas que comercializam as sementes estão associadas também a venda de vitaminas e remédios que tratam algumas doenças. Essas, resultado da disfuncionalidade da nossa alimentação.
O Brasil então se tornou, a partir de 2008, o país que mais consome agrotóxicos em todo mundo, mesmo que seja o país detentor da maior diversidade biológica. “São 5 litros de agrotóxicos por habitante/ano.
Essa é uma história longa que reflete o atual modelo hegemônico. Sem perceber vivemos hoje uma servidão alimentar controlada por empresas de agroquímicos e “bio” tecnologia, associadas a mercados financeiros e inconscientes das reais necessidades alimentares da população.
Por que comer PANCS?
As PANCs vem então como alimentos funcionais em nosso organismo, por meio de vitaminas essenciais, antioxidantes, fibras e sais minerais que nem sempre são encontrados em outros alimentos. A seguir, abordaremos algumas das PANCs, trazendo orientações sobre como identificar, usos culinários, medicinais e propriedades nutricionais.
1) Capuchinha (Tropaeolum majus)
Familia Tropaeolaceae
Propriedades: rica em vitamina C, antocianina, carotenóides e flavonóides. O suco é expectorante. As folhas abrem o apetite, facilitam a digestão e são calmantes. Tem potencial antioxidante, anti -inflamatório e hipotensor.
Parte comestível e usos: Toda a planta. Com sabor picante semelhante ao agrião, as flores e folhas podem ser utilizadas em forma de saladas, patês, pães, em sopas e refogados. Seus frutos podem ser preparados como alcaparra (em forma de conserva). Suas sementes maduras podem ser tostadas e moídas, substituindo a pimenta-do-reino.
Descrição: folhas arredondadas, com nervuras bem marcadas saindo do centro, onde se insere o talo. Flores isoladas, afuniladas, que variam da coloração amarela, alaranjada, aos tons de vermelho com marchas escuras internas.
2) Dente-de-leão (Taraxacum officinale)
Família Asteraceae
Propriedades: Além de ferro e potássio, é rico em vitaminas A, B e C. As raízes são popularmente usadas como diuréticas. Folhas com propriedades depurativas.
Parte comestível e usos: folhas e raízes podem ser consumidas cruas ou refogadas. As flores podem ser consumidas em saladas e na confecção de geléias.
Descrição: folhas serreadas com o caule avermelhado na base, possui apenas uma flor por haste, que são amarelas e vistosas.
3) Ora-pro-nóbis (Pereski aculeata)
Família Cactaceae
Propriedades: as folhas possuem cerca de 25% de proteínas (peso seco), das quais 85% acham-se numa forma digestível, facilmente aproveitável pelo organismo e muito indicada para dietas vegetarianas. Possui ainda vitaminas A, B e principalmente C, além de cálcio, fósforo e quantidade considerável de ferro, ajudando no combate a anemias.
Usos: come-se as folhas, frutos e flores, cruas ou cozidas. As folhas podem ser usadas em saladas, refogados, sopas, omeletes ou tortas, além de enriquecer pães, bolos, massas. Sua mucilagem pode substituir o ovo nas preparações. Os frutos podem ser usados para sucos, geléias, mousse e licor. As sementes podem ser germinadas para produzir brotos. As flores jovens podem ser usadas em saladas, salteadas puras ou com carnes e em omelete.
Descrição: planta trepadeira, seus ramos apresentam espinhos que aparecem em trio e suas flores são de tamanho médio, brancas e amarelas.
4) Inhame (Colocasia esculenta)
Família Aracea
Propriedades: é rico em zinco, fitoestrógenos e considerado uma importante fonte de carboidratos e fibras. Além disso, também tem boas quantidades de vitaminas C e vitaminas do complexo B (B1, B3, B5, B6 e B9).
Parte comestível e usos: tubérculos. Após cozidos podem ser utilizados em sopas, refogados, saladas, pães, bolos e sobremesas.
Descrição: folhas grandes, dispostas em roseta livre, apontadas para baixo, em forma de coração e com a margem levemente ondulada. Na inserção da haste a folha não é fendida, diferentemente da taioba, outra planta alimentícia não convencional.
5) Picão/ picão –preto/carrapicho (Bidens pilosa)
Família Asteraceae
Propriedades: o picão apresenta atividade antioxidante, é fonte de proteína, fibra, ferro, magnésio e alto teor de cobre. Analgésico. Também foram detectadas atividades antimalárica, bactericida, hepatoprotetora, anti-inflamatória, hipotensora, imunoestimulante, e anti-hipertensiva.
Parte comestível e usos: folhas e ramos jovens podem ser consumidos crus e, especialmente, cozidos em diversos pratos: saladas temperadas, farofas, sopas, entre outros. Pode ser preparado um chá gelado a partir da água do cozimento do picão com adição de suco de limão e açúcar.
Descrição: ramos eretos, margem da folha serreada, esparsamente pilosa em ambas as faces. Flores geralmente ausentes, quando presentes, amarelas.
Fonte: Plantas alimentícias não convencionais (PANCs) : hortaliças espontâneas e nativas / organização de Marília Elisa Becker Kelen et al. — 1. ed. — Porto Alegre : UFRGS, 2015. 44 p. : il. color.
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